Paralisação do governo Trump entra em vigor após Congresso rejeitar orçamento

Primeiro ‘shutdown’ desde 2019 atinge centenas de milhares de servidores, ameaça serviços públicos e expõe impasse entre republicanos e democratas sobre gastos com saúde

Os Estados Unidos enfrentam, a partir desta quarta-feira (1º), a primeira paralisação do governo desde 2019. O “shutdown” foi decretado após o Congresso não conseguir aprovar um orçamento provisório que mantivesse o financiamento federal. Com isso, centenas de milhares de servidores serão afastados temporariamente ou trabalharão sem salário até que haja acordo. O impasse gira em torno dos gastos com saúde.

Os democratas condicionam a aprovação do orçamento à prorrogação de programas de assistência médica que estão prestes a expirar. Segundo o partido, sem essa extensão, 24 milhões de americanos terão custos mais altos em seus planos, especialmente em estados governados por republicanos, como Flórida e Texas. Já os republicanos, liderados por Donald Trump, defendem que a questão da saúde seja tratada em separado e acusam os adversários de usar o orçamento como moeda de troca política às vésperas das eleições legislativas de 2026.

Na noite de terça-feira (30), o Senado tentou votar duas propostas, mas ambas fracassaram. O plano republicano, que estenderia o financiamento até 21 de novembro, teve 55 votos, cinco a menos que o necessário. O projeto democrata, que previa recursos adicionais para saúde, também não obteve maioria.

A Casa Branca, em comunicado, classificou a crise como “shutdown democrata”. O próprio Trump endureceu o discurso e afirmou que pode demitir servidores federais e encerrar programas ligados aos democratas durante a paralisação. “Vamos demitir muita gente. E eles serão democratas”, declarou.

Impactos imediatos

Com o fechamento, apenas serviços considerados essenciais seguem funcionando, como segurança pública, fiscalização de fronteiras e parte do controle aéreo. Entre as consequências esperadas:

  • Servidores públicos: milhares serão colocados em licença não remunerada. Aqueles em funções essenciais, como controladores de tráfego aéreo, terão de trabalhar sem receber. O pagamento será feito retroativamente quando o orçamento for aprovado.
  • Aviação e turismo: a Administração Federal de Aviação (FAA) afastou 11 mil funcionários. Outros 13 mil controladores seguem trabalhando sem salário. Atrasos em voos e filas maiores em aeroportos são esperados. Parques nacionais, museus e a Estátua da Liberdade devem suspender visitas.
  • Serviços à população: pagamentos de aposentadorias e invalidez seguem mantidos, assim como o Serviço Postal. Já programas de assistência alimentar podem ser limitados se a paralisação se prolongar.
  • Defesa: cerca de metade dos 742 mil funcionários civis do Pentágono será afastada. Dois milhões de militares permanecem em seus postos. Visitas oficiais de chefes de Estado previstas para os próximos dias devem ser canceladas.
  • Economia: o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) estima que 750 mil servidores fiquem em situação de “desemprego parcial”, com perdas de até US$ 400 milhões por semana. Analistas calculam que cada semana de shutdown pode reduzir o crescimento do PIB americano em 0,2 ponto percentual.

A última paralisação havia ocorrido entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, também sob Donald Trump, e durou 35 dias. O custo estimado foi de US$ 3 bilhões, com impacto direto sobre o PIB e serviços públicos. Agora, com eleições legislativas se aproximando, democratas e republicanos trocam acusações sobre a responsabilidade pelo impasse, enquanto milhões de americanos enfrentam a incerteza de novos cortes e atrasos nos serviços do governo.

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