A deputada estadual Dani Monteiro, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), comparou a Operação Contenção, que já registra 119 mortos, ao massacre do Carandiru, ocorrido em 1992.
“Se esses dados se confirmarem, temos uma violação ainda maior que o Carandiru. Seria a maior já cometida pelo Estado desde a redemocratização”, afirmou a parlamentar nesta quarta-feira (29), durante atendimento da comissão que acompanha os desdobramentos da ação policial nos complexos do Alemão e da Penha, em parceria com outras instituições.
Dani destacou que, segundo especialistas, qualquer ação com mais de seis mortos já é classificada como chacina.
O Massacre do Carandiru aconteceu em 2 de outubro de 1992, quando uma intervenção da Polícia Militar de São Paulo, para conter uma rebelião na Casa de Detenção da capital paulista, deixou 111 presos mortos.
ONU pede explicações e comissão cobra investigação
A parlamentar informou que a Organização das Nações Unidas (ONU) solicitou esclarecimentos ao governo brasileiro sobre a megaoperação no Rio.
“Há um histórico de condenações por violações de direitos humanos em ações semelhantes”, ressaltou.
Dani Monteiro afirmou que operações desse porte deveriam ser precedidas de investigações prévias, para confirmar se os alvos tinham envolvimento com o crime organizado.
“O mínimo seria comprovar que essas pessoas realmente pertenciam ao tráfico antes da ação”, disse.
Ela defendeu o uso obrigatório de câmeras corporais por agentes de segurança, o que permitiria verificar se houve reação armada dos suspeitos e se o uso da força foi proporcional. “Esses dois elementos — câmeras corporais e investigação prévia — não existiram”, reforçou.
A deputada acompanha o trabalho de reconhecimento dos corpos no Complexo da Penha. “Precisamos das autópsias e de investigações que comprovem se essas pessoas tinham mandados de prisão ou histórico criminal. Até agora, há apenas especulações”, afirmou.
“Declarações do governador são levianas”, diz Dani Monteiro
Segundo a parlamentar, o governador não tem como confirmar que todos os mortos eram criminosos, como afirmou à imprensa.
“É uma violação de direitos humanos. O que ele diz é leviano, pois não há comprovação”, declarou.
Mais cedo, o governador afirmou que poderia “tranquilamente classificar de criminosos” todos os mortos, exceto quatro policiais.
Apoio aos familiares e pedido de perícia
Equipes da Comissão de Direitos Humanos estão prestando suporte aos familiares das vítimas. Dani Monteiro denunciou a ausência de representantes do governo nas comunidades e relatou que moradores estão sendo os responsáveis por retirar os corpos de becos e áreas de mata para levá-los ao Instituto Médico-Legal (IML).
A deputada cobrou a realização de perícias no local e exames de balística.
Na terça-feira (28), a comissão enviou ofícios ao Ministério Público do Estado, à Polícia Civil, à Polícia Militar e ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), solicitando informações urgentes sobre o planejamento, a execução e as responsabilidades pela operação. O documento também pede atenção ao uso da força durante a ação.
“Virar a madrugada contando corpos não pode ser rotina”
Em nota divulgada nesta quarta-feira, Dani Monteiro afirmou que “o que vimos no Alemão e na Penha é o retrato de um Estado que perdeu qualquer limite”.
“Virar a madrugada contando corpos não pode ser rotina em um Estado de direito sem pena de morte. O Rio precisa de justiça, não de chacinas eleitoreiras disfarçadas de operação policial”, completou.
A Comissão de Direitos Humanos da Alerj também manifestou solidariedade aos familiares dos policiais mortos, reafirmando que todas as vidas importam e que a violência não pode ser política pública de governo.
*Com informações da Agência Brasil



